sábado, 28 de julho de 2007

Adauto Domingues: de bicampeão a mestre




Foto: Acervo/Gazeta Press
Nome: Adauto Domingues
Data de nascimento: 20 de maio de 1961
Local: São Caetano do Sul
Altura: 1,73m
Peso: 76kg
Especialidade: 3.000m e 5.000m com obstáculos
Principais resultados: Bicampeão pan-americano nos 3.000m com obstáculos (Indianápolis/87 e Havana/91), heptacampeão brasileiro nos 3.000m e 5.000m com obstáculos, quatro vezes pódio na Corrida Internacional de São Silvestre: melhor performance, terceiro lugar em 1985
Participação olímpica: Seul-88

Por Marta Teixeira

Bicampeão pan-americano, o ex-corredor Adauto Domingues pode ter aposentado o tênis nas competições, mas continua prestando sua valiosa contribuição para os resultados brasileiros em Jogos Pan-americanos. Sob sua responsabilidade treinam nomes como o bicampeão da Corrida Internacional de São Silvestre e medalhista pan-americano Marílson Gomes dos Santos e os marchadores Mário José dos Santos e Alessandra Picagevicz, todos pré-convocados para os Jogos de 2007.

A carreira de Adauto começou em 1970, quase por acaso. Ele e o irmão participavam do programa de Patrulheiros Mirins em São Caetano do Sul no qual, além das atividades de formação profissional, também havia práticas de pedestrianismo. E o garoto começou a se destacar.

Trabalhando desde os 11 anos, primeiro como office-boy, depois de ajustador mecânico até finalmente se formar em educação física, os primeiros anos de Adauto no atletismo foram marcados pela partilha do tempo entre as atividades profissionais e as corridas.

Aos 18 anos, foi convidado pelo Sesi para integrar sua equipe – a potência nacional do atletismo na época – e com o incentivo da mãe, aceitou o desafio. “Quando soube do convite, ela me disse: vai lá, se der errado você começa de novo. E eu fui”.

A experiência não poderia ter dado mais certo. Pupilo do histórico treinador Asdrúbal Ferreira Batista durante dez anos, Adauto construiu uma das carreiras mais bem-sucedidas do cenário nacional. Foi sete vezes campeão brasileiro consecutivo nos 3.000m e 5.000m com obstáculos, esteve quatro vezes no pódio da São Silvestre e mantém, até hoje, o recorde brasileiro em pista coberta nos 3.000m, registrado no Mundial de Budapeste-89.

De todas as conquistas obtidas, fora as medalhas, o único troféu que conserva é o de sua primeira vitória, obtida em 1971. Nas provas de rua, um de seus grandes resultados foi a terceira colocação na São Silvestre de 85. Como ele mesmo admite, um pódio que almejava há tempos.

Mas a grande recordação da carreira é mesmo a campanha do Pan-americano de Indianápolis-87. “Ela mudou minha vida”, justifica, lembrando a trajetória até a conquista das medalhas de ouro nos 3.000m com obstáculos e prata nos 5.000m. “Nessa época eu trabalhava na Prefeitura e treinava em dois horários”, explica. “Foi importante primeiro por conseguir fazer o índice. Depois foi muito legal porque tinham dois norte-americanos muito fortes e eu era a zebra (nos 3.000m)”. Quarto melhor do mundo naquela época, Henry Marsh era um dos adversários principais, assim como seu compatriota Brian Abshire, que completaram o pódio.

Na hora da disputa, o estilo de corrida de Adauto acabou fazendo a diferença. “Como característica, é claro que não sou um velocista rápido, mas entre os fundistas eu era muito rápido”, recorda. Na final pan-americana, a corrida serviu como uma luva a seu jeito de correr. “Não foi rápida no começo, mas o final foi muito forte”.

Adauto venceu a prova com o tempo de 8min23s26, registrando um novo recorde pan-americano. A marca durou cinco anos até ser batida e combinada ao título alçou o fundista a outro patamar entre os atletas nacionais e, finalmente, lhe permitiu se dedicar integralmente ao esporte e viver disso.

A emoção do pódio, ele garante reviver cada vez que recorda da cerimônia. “Era uma bandeira brasileira e duas americanas que subiam ao som do hino nacional brasileiro”. Quatro anos depois, em Havana-91, Adauto foi novamente campeão nos 3.000m com obstáculos. “Foi outra história, tão importante quanto, mas não tão emocionante”, confessa.

Fazendo um retrospecto da carreira nas pistas, ele afirma não ter arrependimentos. “Tive uma carreira muito vitoriosa olhando para a realidade daquela época. Se fosse hoje, talvez pudesse ter ido mais longe”, avalia, confessando guardar uma pequena frustração profissional. “Eu queria uma Olimpíada. Fui em Seul, mas não estava tão bem e meu objetivo não foi alcançado”, lamenta.

Reinando absoluto em suas provas durante uma década no Brasil, Adauto viu a carreira começar a declinar após uma seqüência de lesões nas panturrilhas. As contusões comprometiam seu treinamento e nas disputas ele já não obtinha o mesmo aproveitamento. “Nas provas de fundo, se você não treinou não rende. Eu sempre gostei muito de entrar com chance de ganhar e durante dez anos não perdi. Então, quando os resultados diminuíram já não tinha mais a mesma motivação”.

Em 1992, começou a dividir seu tempo entre competições e treinamentos dados a ex-atletas de Asdrúbal, que já havia morrido. A aposentadoria das pistas veio em 1995 e a transição foi vista como um processo natural, que proporcionou outra forma de satisfação. “Sei que tenho muito a aprender. Mas olhando o que passou, acho que só teria muito a agradecer. Tirando esta história das Olimpíadas, consegui alguns resultados muito bons”.

Apesar de feliz na nova fase profissional, Adauto reconhece que os atletas levam certa vantagem sobre os treinadores. “Ser técnico é mais chato. Como atleta você tem o poder de decisão na pista. Como técnico, há variantes que não dependem de você”, completa.

Nenhum comentário: